sábado, 22 de abril de 2023

FUZILAMENTOS DE 3 DE MAIO DE 1808, EM MADRID

FRANCISCO DE GOYA, 1814
Óleo sobre tela, 347 X 268 cm
Museu Nacional do Prado (Madrid)

Particularmente inspirado por Velázquez, a arte de Francisco de Goya rompeu definitivamente com o passado. Como pintor da corte, criava desenhos para tapeçarias e pintava retratos da realeza e da aristocracia espanholas. As suas obras traduzem as circunstâncias difíceis e incertas da Espanha nos séculos XVIII e XIX. Em 1792, uma doença grave deixou-o surdo para sempre o que iniciou um período de uma série de desenhos e gravuras perturbadoras que retratavam abusos, loucuras e atrocidades cometidos na Espanha contemporânea. Em 2 de Maio de 1808, os exércitos de Napoleão invadiram Madrid e os cidadãos insurgiram-se contra eles. Em represália, os soldados franceses cercaram centenas de espanhóis e atiraram contra eles. Goya representou um trabalhador espanhol prestes a ser fuzilado, de joelhos, com os braços abertos de uma maneira que nos recorda a crucificação de Cristo. A sua mão direita está marcada por um estigma – como as marcas deixadas no corpo de Cristo durante a crucificação. A lanterna no chão é a única fonte de luz, que destaca a vítima e permite que os soldados vejam os seus alvos, projectando longas sombras por toda a cena. Uma pilha de corpos ensanguentados representa os homens que lutaram e morreram pela sua cidade. A figura ajoelhada, a rezar, é um frade franciscano. Ele foi cercado junto com os outros espanhóis, mas é improvável que tivesse participado na rebelião. A sua presença traduz o carácter vingativo dos soldados franceses. Com os seus casacos compridos, chapéus altos e sabres, e vistos por trás, os soldados são anónimos e desumanos, apontando as espingardas à queima-roupa. Os tons soturnos do quadro enfatizam o horror. (in “Breve História da Arte”, Susie Hodge 2017)

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